Um vento muito leve passa...

'O último a sair, por favor, que feche a porta e apague as luzes. Não sei por quanto tempo será esta ausência.'

sexta-feira


Sinto que a frieza tomou conta de mim.

Tem vindo a jogar janela fora uma quantidade de sentimentos, emoções e sensações.

Escolhi defender meu coração de assaltos de paixão ou surtos de amor.

Desde há muito que deixo de parte todas essas doenças estranhamente curáveis com o tempo mas que nesse mesmo tempo deixam o corpo em ruína.

Cada vez mais, sigo as temporadas levianas em que vagueio de corpo em corpo sem olhar para trás.

Recordo-me esporadicamente do meu refúgio. Mas, já não sei se por esta altura, sou livre ou simplesmente aspirou o prazo de validade. Não me sinto se tocar, afundo-me em sombras.

Não sei quantas vezes me vou arrepender, por ter tido a certeza de que não o iria fazer agora.

Nem sei quantas vezes, vou pensar sobre o que terminei ou comecei nas minhas vontades.

Desisti de tentar admitir ao vento tudo aquilo que os pássaros abafam em gritos. Quais segredos, quais quê! Poderia gritá-lo no teu ouvido se fosse preciso, mas não é! Foi sempre assim, raramente estivemos em sintonia e sempre foram feitas perguntas certas em horas erradas.

Não existem dias em que penso em ti, é contínuo. É como se me tivesses ensinado a andar. Tudo tem um toque teu, tudo se relaciona da maneira como te via e nenhum olhar me agarra mais que o teu.

Não há dia para ouvir as palavras trocadas, a ansiedade antes de chegares, o medo porque deves estar a chegar ou o estremecer pela chegada da última mensagem antes de sermos só nós. Dói-me saber que nunca mais vamos estar próximos, nunca mais vamos rir juntos… Dói-me saber que se calhar não foi melhor assim.

Acordei um dia destes com os meus sete pés esfolados de tanto fugir, já nem sei de que material sou feita.

Procuro por ti em todos os lugares para que me digas se estou a ir bem.

Penso baixinho em como gostava de ter notícias tuas, vindas de ti. Que tivesses perguntado por mim uma vez que fosse e eu faria girar o mundo. Já não se trata de preço a pagar ou sonhos desfeitos.

Por dentro fechou. Ficaste.

quinta-feira

Talvez tenha acontecido com alguém...


Pairava no ar um alívio desmedido, quando senti o peso do seu braço sobre mim…
Meu coração foi-se deixando ficar lentamente e assim, pus termo àquela vibração insolente. Aos poucos sentia a sua pele que em suaves toques me enternecia…e já cansada de olhar o vazio me desdobrei e fiquei ali, próxima do seu rosto…
Seu respirar subia pelo meu corpo e por dentro um tambor ressoava cada expirar… abri os olhos e dei de cara com os dele…ali, pausados, serenos, doces... escolhi fechar os meus…e cada milésimo de segundo passou a sufoco…um desejo e um medo indomável…o próximo passo, o beijo. Na minha caixa, uma mesa de pingue-pongue onde eu andava entre o deixar-me levar e o fugir…sempre assim, até que, estremeci e fugi! Atrapalhada, oculta do meu desejo, só queria voltar a casa...rever-me como antes.
E ainda não sei por quanto tempo é esta demora naquele momento. Sei que já não quero falar sobre ela, tornou-se intocável, frágil memória, para não mais sofrer…
Desperto, é preciso! Pois, o meu lugar está para onde vou…

Ontem, quis que fosse mentira, pois já não suportava em mim a ideia de me ter apaixonado novamente. Fingi não estar iludida e então agarrei me ao presente passado com unhas e dentes. Gritei vezes sem conta a impossibilidade de por momentos sentir aquela insegurança. Senti necessidade de ouvir o passado dizer-me que é ali o meu lugar e continuar assim, estável, como antes.
Mas o tempo é um relógio imparável e cada dia que passa penso como teria sido se por momentos tivesse sido diferente, deixar-me levar...
Na minha caixa, mora um cuco que martela ao som das badaladas. Cada eco longínquo me reaviva a memória e ainda assim fico móvel. O meu lugar é aqui.