Um vento muito leve passa...

'O último a sair, por favor, que feche a porta e apague as luzes. Não sei por quanto tempo será esta ausência.'

quinta-feira

Talvez tenha acontecido com alguém...


Pairava no ar um alívio desmedido, quando senti o peso do seu braço sobre mim…
Meu coração foi-se deixando ficar lentamente e assim, pus termo àquela vibração insolente. Aos poucos sentia a sua pele que em suaves toques me enternecia…e já cansada de olhar o vazio me desdobrei e fiquei ali, próxima do seu rosto…
Seu respirar subia pelo meu corpo e por dentro um tambor ressoava cada expirar… abri os olhos e dei de cara com os dele…ali, pausados, serenos, doces... escolhi fechar os meus…e cada milésimo de segundo passou a sufoco…um desejo e um medo indomável…o próximo passo, o beijo. Na minha caixa, uma mesa de pingue-pongue onde eu andava entre o deixar-me levar e o fugir…sempre assim, até que, estremeci e fugi! Atrapalhada, oculta do meu desejo, só queria voltar a casa...rever-me como antes.
E ainda não sei por quanto tempo é esta demora naquele momento. Sei que já não quero falar sobre ela, tornou-se intocável, frágil memória, para não mais sofrer…
Desperto, é preciso! Pois, o meu lugar está para onde vou…

Ontem, quis que fosse mentira, pois já não suportava em mim a ideia de me ter apaixonado novamente. Fingi não estar iludida e então agarrei me ao presente passado com unhas e dentes. Gritei vezes sem conta a impossibilidade de por momentos sentir aquela insegurança. Senti necessidade de ouvir o passado dizer-me que é ali o meu lugar e continuar assim, estável, como antes.
Mas o tempo é um relógio imparável e cada dia que passa penso como teria sido se por momentos tivesse sido diferente, deixar-me levar...
Na minha caixa, mora um cuco que martela ao som das badaladas. Cada eco longínquo me reaviva a memória e ainda assim fico móvel. O meu lugar é aqui.