Um vento muito leve passa...

'O último a sair, por favor, que feche a porta e apague as luzes. Não sei por quanto tempo será esta ausência.'

sexta-feira

Lágrimas da saudade

Com o passar do tempo,

Descobrimos que existem matérias que se misturam.

Culpa desta agitação nos nossos momentos.

E mesmo sem forças, cintilam as imagens,

Verdadeiras brisas de saudade…

Todos aqueles lugares e os sons infinitos,

Risos e vozes espalham-se por todo lado.

Meu pensamento voa com eles, asas para quê?!

De repente, desprendo-me do mundo em que vivo

E habito para meu espanto naquele mundo que outrora foi meu.

No corpo persistem as dores constantes,

E ao mesmo tempo um leve sopro de alívio, soltam-se aos poucos os aromas, todos os gostos de riso e gargalhadas que me percorrem, como se toda vida tivessem estado trancadas naquela caixa das coisas intocáveis para que já mais se percam!

E nossos segredos espalham-se por mim sob pequenos sussurros retocando todas as feridas já saradas, desvendando o mistério de todas as coisas que juramos guardar sem pestanejar…

São tantas as memórias. E por entre esta gente desconhecida me encontro transformada.

Aqui estou eu, este fragmento de pessoa com demasiada consciência!

E mais uma vez, ressalta uma tristeza sem fim!

As lágrimas caiem, não tenho como as suster

E não quero…

Só elas abrandam esta dor de sentir e não poder gritar e falar…

Podia banhar-me em lágrimas se essas fossem a cura para todo este mal que persiste.

Não há cura..!

E o que atenuava aos poucos vai extinguindo e quando penso que secou de vez criasse mais um mar à minha volta…

Restam-me estas dividas que fiz com o meu coração

E estes juros que criei para nós, o tempo de uma vida para consertar tudo!

E esta vontade imensa de reaver pessoas e encontrar outras que me preencham é incessante.

Mas ninguém é como vós e por muito que se criem momentos bons, nenhuns superam os nossos…

Inconscientes, sem sentido, emaranhados de magia, uma magia que só se tem num determinado tempo, o nosso tempo!

E em todos os espaços lá estamos nós de passagem…

Tudo me foge ao controle.

Com o tempo descubro que cada vez mais sou incapaz!

A inconsciência e o vício do sem sentido e sem planeamento ficou por terra, cada vez mais acredito que isso só se vivia no nosso tempo…

E nem as cartas ou as imagens deixam em mim aquela magia que vivencíamos, apenas ternura, carinho e uma saudade inexplicável.

E de certa forma, uma vontade de sorrir não porque acabou, mas porque aconteceu de um jeitinho tão infantil quanto a nossas gargalhadas ou palavras que perduram até hoje…

O tempo derruba-me cada vez mais..

E o todo agora é uma luz intermitente na minha cabeça, um sussurro nos meus ouvidos e uma estaca no peito!

Sinto-me mais desesperada que um vampiro por sangue de gente e por muito que siga…

Continuam presas a mim estas correntes do passado

Tanto me custaste a deixar ir, talvez porque de todas as vezes acertaste cá dentro…

Parece que nunca saí daquele dia,

Sentada ao telefone a chorar

E a ouvir-te do outro lado

A fazer promessas de uma amizade sem fim

De uma volta ansiada. E um futuro melhor para nós!

Uma vinda tão cruel..

E acabei por ver ao espelho outra pessoa que não o Eu que sempre fui para ti...

Meu pensamento foge

E apareces tu do nada num sonho..

Um chamamento que me deixa a pensar..

E penso..

Desta vez a culpa não foi do tempo, muito menos do mundo!

Fui eu e fomos nós que sem querer nos largamos da mão..

E assim se foi a promessa de segurar a corda mesmo sem sentir a presença de cada uma do outro lado…

Por fim, de relance regresso à origem e reconheço

Nasci aqui onde tudo é possível

E só por isso, guardo em mim o sonho inabalável de um dia vir a ter a possibilidade de me redimir.

Assim que o mundo der a sua meia volta talvez

E voltar ao ponto onde ficámos,

Poderei dizer o que sinto agora…

Podíamos ter convivido uma eternidade que não me importava!