
Com o passar do tempo,
Descobrimos que existem matérias que se misturam.
Culpa desta agitação nos nossos momentos.
E mesmo sem forças, cintilam as imagens,
Verdadeiras brisas de saudade…
Todos aqueles lugares e os sons infinitos,
Risos e vozes espalham-se por todo lado.
Meu pensamento voa com eles, asas para quê?!
De repente, desprendo-me do mundo em que vivo
E habito para meu espanto naquele mundo que outrora foi meu.
No corpo persistem as dores constantes,
E ao mesmo tempo um leve sopro de alívio, soltam-se aos poucos os aromas, todos os gostos de riso e gargalhadas que me percorrem, como se toda vida tivessem estado trancadas naquela caixa das coisas intocáveis para que já mais se percam!
E nossos segredos espalham-se por mim sob pequenos sussurros retocando todas as feridas já saradas, desvendando o mistério de todas as coisas que juramos guardar sem pestanejar…
São tantas as memórias. E por entre esta gente desconhecida me encontro transformada.
Aqui estou eu, este fragmento de pessoa com demasiada consciência!
E mais uma vez, ressalta uma tristeza sem fim!
As lágrimas caiem, não tenho como as suster
E não quero…
Só elas abrandam esta dor de sentir e não poder gritar e falar…
Podia banhar-me em lágrimas se essas fossem a cura para todo este mal que persiste.
Não há cura..!
E o que atenuava aos poucos vai extinguindo e quando penso que secou de vez criasse mais um mar à minha volta…
Restam-me estas dividas que fiz com o meu coração
E estes juros que criei para nós, o tempo de uma vida para consertar tudo!
E esta vontade imensa de reaver pessoas e encontrar outras que me preencham é incessante.
Mas ninguém é como vós e por muito que se criem momentos bons, nenhuns superam os nossos…
Inconscientes, sem sentido, emaranhados de magia, uma magia que só se tem num determinado tempo, o nosso tempo!
E em todos os espaços lá estamos nós de passagem…
Tudo me foge ao controle.
Com o tempo descubro que cada vez mais sou incapaz!
A inconsciência e o vício do sem sentido e sem planeamento ficou por terra, cada vez mais acredito que isso só se vivia no nosso tempo…
E nem as cartas ou as imagens deixam em mim aquela magia que vivencíamos, apenas ternura, carinho e uma saudade inexplicável.
E de certa forma, uma vontade de sorrir não porque acabou, mas porque aconteceu de um jeitinho tão infantil quanto a nossas gargalhadas ou palavras que perduram até hoje…
O tempo derruba-me cada vez mais..
E o todo agora é uma luz intermitente na minha cabeça, um sussurro nos meus ouvidos e uma estaca no peito!
Sinto-me mais desesperada que um vampiro por sangue de gente e por muito que siga…
Continuam presas a mim estas correntes do passado
Tanto me custaste a deixar ir, talvez porque de todas as vezes acertaste cá dentro…
Parece que nunca saí daquele dia,
Sentada ao telefone a chorar
E a ouvir-te do outro lado
A fazer promessas de uma amizade sem fim
De uma volta ansiada. E um futuro melhor para nós!
Uma vinda tão cruel..
E acabei por ver ao espelho outra pessoa que não o Eu que sempre fui para ti...
Meu pensamento foge
E apareces tu do nada num sonho..
Um chamamento que me deixa a pensar..
E penso..
Desta vez a culpa não foi do tempo, muito menos do mundo!
Fui eu e fomos nós que sem querer nos largamos da mão..
E assim se foi a promessa de segurar a corda mesmo sem sentir a presença de cada uma do outro lado…
Por fim, de relance regresso à origem e reconheço
Nasci aqui onde tudo é possível
E só por isso, guardo em mim o sonho inabalável de um dia vir a ter a possibilidade de me redimir.
Assim que o mundo der a sua meia volta talvez
E voltar ao ponto onde ficámos,
Poderei dizer o que sinto agora…
Podíamos ter convivido uma eternidade que não me importava!